Resumo: No labirinto hermenêutico do pensamento de Nietzsche, ainda falta um capítulo dedicado à reconstrução de sua reflexão acerca da imprensa moderna. Mas, passando em revista seus escritos, pode-se notar como a crítica mordaz aos jornais acompanha-lhe ao longo de todas as fases de sua vida. O jornalismo sempre está na mira de suas visadas polêmicas, haja vista que, para ele, representa um tema realmente sócio-cultural. O filósofo dá provas de ser um observador acurado das influências do jornalismo sobre a cultura e a sociedade de sua época: seu olhar oscila entre considerações teóricas a respeito da relação cultura/sociedade e observações fenomenologicamente mais concretas acerca da influência da media sobre o dia-a-dia de seus contemporâneos. Trata-se de uma batalha que atravessa sua vida inteira, mas que é composto, lamentavelmente, por um material quantitativamente limitado, prenhe de rancor pessoal: tudo aquilo que Nietzsche nos legou acerca do mundo jornalístico acha-se disperso sob a forma de passagens concisas, cujo tom, quase sempre, é excessivo. No entanto, essa fragmentação e esse pathos convertem-se no único caminho rumo à reconstrução da polêmica nietzschiana em relação a imprensa escrita. Mas, ainda que fugazes, esses elementos parecem fornecer uma imagem de Nietzsche como alguém assaz consciente da frequente convergência entre a vivência da modernidade e a experiência com jornais. A extemporaneidade de tal encontro revela a “interseção fenomenológica” de um aspecto fundamental da modernidade, o qual ainda permanece extremante relevante e problemático.
Abstract: In the hermeneutics’ maze of Nietzsche’s thought, a chapter dedicated to the reconstruction of his reflection about modern press is still missing. But scanning his works, it can be noted how the passionate diatribe against newspapers accompanies him through all his life stages. Journalism never leaves his polemical sights since it represents a real social-cultural issue to him. He proves to be an accurate observer of their influence in culture and society of his time: his eye swings between theoretical considerations about the culture-journalism relationship and more concrete phenomenological observations about the influence of media on the daily lives of his contemporaries. A lifetime battle which has regrettably settled in a limited amount of material, filled with personal grudge: everything Nietzsche has left us about the newspapers’ world, is scattered in short passages, whose tone is almost always excessive. This fragmentation and this pathos become, however, the only path to follow to reconstruct Nietzsche’s polemic towards printed press. Fleeting brushworks they are, from which it seems to appear an image of Nietzsche as very aware of the frequent matching between the experience of modernity and the experience of newspapers. His untimeliness shows a vibrant “phenomenological cross section” of a fundamental aspect of modernity, so far still extremely relevant and problematic.